Esta passagem, fala-nos de um homem, Naamã, o número dois do reino da Síria, o comandante do exército sírio, quando reinava em Israel o rei Jorão, filho de Acabe e de Jezabel, de má memória.
Este homem poderoso e de muito respeito, herói valoroso, porém leproso, conforme 2Reis 5:1, tinha em sua casa uma menina judia que o seu exército tinha trazido de Israel.
Recordemos que os leprosos eram afastados e marginalizados pela sociedade, porém Naamã, fruto das suas qualidades conseguia estar integrado, não sem um grande sofrimento contudo.
Era esta menina dedicada a seus senhores, porventura lavaria e trataria das ricas porém manchadas vestes, e trocadas a cada dia face à doença terrível de que padecia Naamã, e comentou com a sua senhora, que se Naamã estivesse diante do profeta que estava em Samaria, seu senhor seria curado, conforme 2Reis 5:3.
O rei da Síria, tratou de enviar o seu precioso servo a Israel, carregado de bens preciosos e de carta de recomendação para o rei de Israel, seu homólogo, preocupado como estava com o estado de saúde do seu fiel servo, tal como o nosso Pai do Céu se preocupa connosco, só que numa dimensão inigualável.
Ora quando Jorão recebeu a comitiva e leu a carta que os acompanhava, temeu, conforme lemos no verso 7 deste mesmo capítulo 5, pois a Síria era adversário temível e tinha já levado a melhor em confrontos bélicos com Israel, no tempo de seu pai Acabe.
Mas o profeta do Espírito dobrado de Elias fez anunciar a Jorão que não temesse, e lhe enviasse Naamã para que este soubesse que havia profeta em Israel.
Assim veio Naamã, à porta de Eliseu com a sua comitiva imponente, esperando com certeza uma receção digna de um alto representante governamental, mas ficou dececionado pelo facto de Eliseu lhe ter mandado recado por seu servo, dizendo para mergulhar sete vezes nas águas do Jordão, versículo 10 deste capítulo, e que com isso ficaria curado.
A deceção de Naamã, deu lugar à indignação e ao acto de voltar para trás, murmurando: “Eis que eu dizia comigo: Certamente ele sairá, pôr-se-á em pé, invocará o nome do Senhor seu Deus, e passará a sua mão sobre o lugar, e restaurará o leproso.
Não são porventura Abana e Farpar, rios de Damasco, melhores do que todas as águas de Israel? Não me poderia eu lavar neles, e ficar purificado? E voltou-se, e se foi com indignação.” 2Reis 5:11-12
Apesar de todas as qualidades que Naamã tinha, e não seriam poucas, pois um homem desta posição, teria que ser valoroso, inteligente, estratega, educado, honesto, dedicado e fiel, tinha também os seus defeitos: Orgulho e Murmuração.
E nós? Não temos também os nossos defeitos? Podemos olhar para Naamã com recriminação? Não, pois também somos e devemos sempre reconhecer que somos pecadores.
Diz a Palavra, que se chegaram a ele os seus servos e o aconselharam a reconsiderar na sua posição: “Meu pai, se o profeta te dissesse alguma grande coisa, porventura não a farias? Quanto mais, dizendo-te ele: Lava-te, e ficarás purificado.
Então desceu, e mergulhou no Jordão sete vezes, conforme a palavra do homem de Deus; e a sua carne tornou-se como a carne de um menino, e ficou purificado.” 2Reis 5:13-14
Porque é que Naamã reconsiderou e mergulhou desta vez nas águas barrentas e escuras do Jordão? Naamã lembrou-se que tinha alguém acima dele, ao qual já teria algumas vezes aconselhado, proposto soluções, e certamente teria sido ouvido. Ora o apelo dos seus servos fizeram-no repensar a sua actuação, e que assim como foi atendido pelo seu rei, também deveria atender a seus servos. Naamã teve uma luta, mas pôs aqui os seus preconceitos de lado, venceu o seu orgulho e a sua murmuração foi calada.
Naamã mostrou-nos aqui outra qualidade: humildade, a qual também deve ser nossa. Mergulhou não uma, mas sete vezes no Jordão.
Nós queremos tomar banho em Abana e Farpar, não nas águas barrentas do Jordão. Queremos o conforto, a comodidade, a manutenção do nosso ego e da nossa vida mundana. Nada de rebaixar, de curvar perante Deus e os homens. Nada de reconhecer que somos barro e que ao barro voltaremos. Mas é justamente quando descemos ao Jordão e mergulhamos nas suas águas que nos tornamos valorosos para Deus, é quando nos curamos por dentro e por fora.
Fernando Pinho