Lemos e temos como base em 1.º Samuel 15:1-35 uma passagem referente ao primeiro rei de Israel, Saul.
A mesma começa por uma ordem dada por Samuel, da parte de Deus, a Saul: destruir totalmente os amalequitas, e a tudo quanto tinham, sem qualquer exceção, uma vez que este povo se opôs ao povo de Deus na sua caminhada do Egipto para a Terra Prometida.
Mas seria a oposição de Amaleque ao povo de Deus no passado, suficiente para justificar uma destruição completa, tarefa agora imputada a Saul?
Reportemos ao livro de Gênesis, capítulo 12, onde Deus chama Abrão para sair da sua terra e partir para a Terra Prometida, e no verso 3 faz-lhe uma promessa: “E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra.”
Ora Amaleque foi englobado aqui nesta promessa, pois atacou o povo israelita, conforme podemos ver no capítulo 17 de Êxodo, versos 8 a 16. E Deus fez especial advertência a Moisés no verso 14, quanto ao futuro de Amaleque: “Então disse o Senhor a Moisés: Escreve isto para memória num livro, e relata-o aos ouvidos de Josué; que eu totalmente hei de riscar a memória de Amaleque de debaixo dos céus.”
Já os Queneus, descendentes de Jetro, sogro de Moisés, os quais tinha usado de misericórdia para com o povo de Deus, na mesma caminhada, conforme o capítulo 18 de Gênesis, saíram abençoados e do meio dos amalequitas.
Saul ouviu perfeitamente as ordens transmitidas por Deus e convocou o povo para guerrear. Com toda a certeza transmitiu o que era esperado deste exército: destruir tudo o tivesse Amaleque, e não perdoar. Samuel tinha mesmo especificado no verso 3: “porém matarás desde o homem até à mulher, desde os meninos até aos de peito, desde os bois até às ovelhas, e desde os camelos até aos jumentos.”
Local da missão: território compreendido entre Havilá no sul de Canaã, e Sur a leste do Egipto.
Iniciado o combate, Saul tomou vivo a Agague, rei dos amalequitas e depois destruiu a todo o povo ao fio da espada.
Também o povo reservou troféu, e a exemplo de Saul poupou o gado bom, “E Saul e o povo pouparam a Agague, e ao melhor das ovelhas e das vacas, e as da segunda ordem, e aos cordeiros e ao melhor que havia, e não os quiseram destruir totalmente, porém a toda a coisa vil e desprezível destruíram totalmente.”
Saul não tinha autoridade sobre o povo, nem sequer tinha moral para o repreender pelo seu gesto desobediente, poupando o gado e trazendo-o para casa, como despojo de guerra, pois Saul também trouxe vivo a Agague.
Saul era um líder desobediente e sem autoridade. Já no capítulo 18 e verso 8 a 14, do mesmo livro, vemos Saul oferecendo animais em sacrifício, usurpando as funções cometidas aos sacerdotes, pois ele não soube esperar. Ainda no mesmo livro, capítulo 14 e verso 24, vemos o resultado de um ato e voto impensado de Saul, pois proibiu todo o povo de comer o que quer que fosse até à tarde, antes que matasse os filisteus, ficando o povo exausto devido à proibição, e por isso pecando ao comer carne com sangue, do despojo. O seu filho Jônatas, que não tinha ouvido o voto impensado do pai, provou de um favo de mel e colocou a sua cabeça a prémio, pois seu pai prometeu que qualquer que tivesse desobedecido ao seu voto, ainda que fosse o seu filho, morreria, mas depois queria ser perdoado por Samuel.
Saul já não tinha intimidade com Deus, Saul estava atuando na sua própria força, e as ordens de Deus eram esquecidas ou adulteradas.
Saul não tem qualquer problema em destruir toda a coisa vil e desprezível; O que o incomoda é ver coisas em perfeito estado serem destruídas. Ele não tem problema algum para matar homens e mulheres amalequitas, e mesmo os seus filhinhos; No entanto, é difícil para ele matar o seu rei, Agague. Ele não tem nenhum problema em massacrar o gado comum, mas não aguenta desperdiçar carne de primeira e um bom cordeiro. Quando Samuel encontrou Saul, ele disse a Samuel: “cumpri a palavra do Senhor.” Mas Samuel questiona-o pela sua desobediência, porquanto ouve balido de ovelhas e mugido de vacas, mas Saul não desarma, dizendo que o despojo se justificava pois o gado seria utilizado nos sacrifícios e que trazer Agague vivo também era correto. Assim Saul achava que sacrificar animais que não eram dele ou do povo era correto.
Samuel responde-lhe: “Tem porventura o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à palavra do Senhor? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros.”
Saul declara a Samuel que pecou, mas não havia aqui um verdadeiro arrependimento, pois Saul estava mais preocupado com a sua imagem perante os anciãos e o povo, do que com a sua desobediência para com Deus.
Não há o cumprimento de meia obediência, a obediência a Deus deve ser total. Samuel teve de concretizar a ordem não cumprida de Saul, destruindo Agague, e esta desobediência, custou-lhe o seu reinado. Samuel retirou para Ramá e não mais viu Saul até ao dia da sua morte.
(Irmão Fernando Pinho)